Steve McQueen, o Herói dos Nossos Pais!

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Ícone cultural e cinematográfico das décadas de 1960 e 1970, Steve McQueen – cujo nome completo era Terrence Stephen McQueen – foi um ator americano, considerado uma das maiores celebridades da história do cinema. Conhecido também pela alcunha de “o rei descolado” (King of Cool) pelo seu jeito másculo, viril e indiferente, Steve McQueen foi o grande herói, ícone e referência das gerações que cresceram durante a efervescência da contracultura. Ativo entre os anos de 1953 e 1980,Steve McQueen participou de 29 filmes e 11 seriados de televisão. Mesmo depois de morto, o astro permanece sendo uma das celebridades mais rentáveis e lucrativas da história do cinema americano.

Nascido em 24 de março de 1930 em Beech Grove, no estado de Indiana, Steve McQueen teve uma infância precária e difícil. Com uma família disfuncional, ele decidiu aos nove anos de idade fugir de casa para morar nas ruas. Depois de conhecer outros garotos que compartilhavam das mesmas dificuldades, o jovem Terrence McQueen passou a envolver-se frequentemente em atos de vandalismo e delinquência juvenil. Destituído de apoio familiar, McQueen – abandonado e largado à própria sorte – invariavelmente se tornou um rapaz difícil e problemático, além de ser indisciplinado e ocasionalmente violento.

Alguns anos depois, no entanto, a situação do rapaz começou a melhorar; especialmente quando ele recebeu, em 1947, permissão de sua mãe – por ser menor de idade, precisava da autorização dos responsáveis legais – para se alistar na marinha. Depois de um período inicial atribulado, em que se recusava terminantemente a ser “domesticado” pela disciplina naval, McQueen mudou radicalmente e passou a ser um recruta dedicado e responsável, eventualmente recebendo promoções e assumindo posições de relevância dentro da hierarquia naval. Ele chegou a salvar a vida de cinco fuzileiros durante um exercício de patrulhamento no Ártico, e participou da equipe de guarda responsável pela vigilância do USS Williamsburg, o iate presidencial.

Em 1950, Steve McQueen foi dispensado com honra da marinha. Posteriormente, ele falou de forma muito positiva do seu tempo na marinha naval dos Estados Unidos, ao declarar explicitamente: “os fuzileiros navais fizeram de mim um homem.”

Com os benefícios que lhe foram concedidos através da lei de reajuste dos militares de 1944, Steve McQueen começou a estudar drama e interpretação em Nova Iorque. Em 1952, ele fez a sua estreia no teatro, em um pequeno papel onde pronunciava apenas uma única frase.

Nessa época, Steve McQueen começou a se dedicar também a outra grande paixão pessoal, que o acompanharia pelo resto da vida: corridas de carro e de moto. Depois de economizar um dinheiro, Steve McQueen comprou duas motocicletas. Nos finais de semana, ele participava de competições amadoras, chegando a receber prêmios consideráveis em dinheiro por suas excelentes performances nas corridas.

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Sem esperança de conquistar uma carreira de futuro como ator em Nova Iorque, em 1955, Steve McQueen decidiu fazer o que a maioria dos atores acabam fazendo quando tem a pretensão de viver exclusivamente das artes dramáticas: se mudam para a Califórnia, com o objetivo de tentar a sorte em Hollywood. Com a determinação de conquistar uma carreira e se tornar um ator profissional, foi exatamente isso o que Steve McQueen fez, aos 25 anos de idade. E como os entusiastas da sétima arte sabem perfeitamente, a indústria cinematográfica americana nunca mais seria a mesma.

Em 1957, Steve McQueen foi escalado para participar de dois episódios do programa Westinghouse Studio One, onde chamou a atenção do produtor Hillard Elkins. Como algumas boas oportunidades lhe foram oferecidas, o ator começou uma meteórica transição da televisão para o cinema, o que foi uma conquista relativamente rápida, levando em consideração que fazia apenas dois anos que Steve McQueen estava em Los Angeles.

Depois de ter participado de apenas três filmes, Steve McQueen conseguiu o seu primeiro papel principal, ao estrelar como Steve Andrews em A Bolha Assassina (The Blob), filme de horror de baixo orçamento dirigido por Irvin Yeaworth, lançado em 1958. Neste filme, seu nome aparece nos créditos como Steven McQueen.

Steve McQueen conquistou sua fama, no entanto, como protagonista de um faroeste televisivo produzido pela CBS, intitulado Procurado Vivo ou Morto (Wanted: Dead or Alive).

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Neste seriado – que ficou no ar por três temporadas, de 1958 a 1961 -, Steve McQueen interpretou Josh Randall, um veterano confederado que ganha a vida como caçador de recompensas. Este foi o papel que abriu as portas de Hollywood para Steve McQueen; a demanda por ele na indústria cinematográfica eventualmente se tornaria tão grande que o ator abandonaria a televisão em definitivo em 1961, para se dedicar exclusivamente ao cinema.

No final da década de 1950, Steve McQueen participou do filme Quando Explodem as Paixões (Never So Few), onde contracenou com Frank Sinatra. O filme – lançado em 1959 – foi a sua primeira colaboração com o diretor John Sturges. Posteriormente, ambos passariam a trabalhar juntos com regularidade em diversas produções.

A consolidação de Steve McQueen como grande astro de Hollywood, no entanto, veio no ano seguinte, com o faroeste Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven), também dirigido por John Sturges. Lançado em 1960, neste filme Steve McQueen teve a oportunidade de contracenar com outros atores que também se tornariam memoráveis astros da sétima arte: Eli Wallach, Yul Brynner, James Coburn, Robert Vaughn, Horst Buchholz e Charles Bronson.

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Ainda que não partisse de uma premissa exatamente original – o enredo é basicamente uma releitura western do filme Os Sete Samurais (Seven Samurai), do lendário cineasta japonês Akira Kurosawa -, Sete Homens e Um Destino foi um estrondoso sucesso, que pavimentou o caminho para que Steve McQueen se tornasse uma das maiores celebridades cinematográficas da sua geração.

A partir de então, as ofertas de trabalho não parariam mais de surgir, e a demanda por Steve McQueen em Hollywood passaria a ser cada vez maior. Em 1963, Steve McQueen foi o protagonista do filme de guerra Fugindo do Inferno (The Great Escape), outro filme dirigido por John Sturges. Esta produção épica – baseada no livro homônimo de Paul Brickhill – conta a história real de prisioneiros de guerra que fugiram de um campo de detenção mantido pelos nazistas na província da Baixa Silésia.

Em Fugindo do Inferno, Steve McQueen contracenou novamente com Charles Bronson e James Coburn, com quem havia trabalhado em Sete Homens e Um Destino. A produção contou ainda com outros nomes de peso, como Richard Attenborough, James Garner, Donald Pleasence, Gordon Jackson e David McCallum.

Por este filme, Steve McQueen recebeu o Prêmio de Prata do Festival Internacional de Cinema de Moscou de Melhor Ator. Neste mesmo ano, o ator recebeu uma nomeação para o Globo de Ouro de Melhor Ator na categoria drama por seu papel de Rocky Papasano, no filme O Preço de um Prazer (Love with the Proper Stranger), onde Steve McQueen fez par romântico com a atriz Natalie Wood.

Em 1965, Steve McQueen protagonizou o filme A Mesa do Diabo (The Cincinnati Kid), drama dirigido por Norman Jewison, no qual o ator interpretou um personagem chamado Eric Stoner, um entusiasta das cartas determinado a se tornar o maior jogador de pôquer da sua geração. A partir de então, uma sequência de sucessos se seguiriam, o que estabeleceria definitivamente Steve McQueen como um dos maiores atores de sua geração.

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Em 1973, Steve McQueen estrelou em Papillon, filme que se tornaria um dos mais emblemáticos e mitológicos de sua carreira. Supostamente baseado em fatos reais, nesta magistral obra-prima da sétima arte, Steve McQueen interpretou Henri Charrière, o personagem título, que ficou conhecido como Papillon (borboleta, em frânces) por ostentar a tatuagem de uma borboleta em seu peitoral. Injustamente condenado por assassinato pela justiça francesa no início da década de 1930, Henri Charrière foi enviado para uma colônia penal na Guiana Francesa para cumprir a sua sentença.

A partir de então, o espectador acompanha todos os incansáveis e terríveis périplos que formam o deplorável calvário de Henri Charrière, composto por uma dramática sucessão de dificuldades, como confinamento solitário, infindáveis horas de labuta em campos de trabalho forçado e suas tentativas de fuga da colônia penal de Cayenne – também conhecida como Ilha do Diabo. Dirigido por Franklin J. Schaffner, neste filme, Steve McQueen contracenou com um então desconhecido Dustin Hoffman, em um de seus primeiros papéis. Em Papillon, Dustin Hoffman interpretou o prisioneiro Louis Dega, indivíduo franzino e tímido, que é vítima de toda a sorte de abusos e arbitrariedades por parte dos guardas da prisão e de outros prisioneiros. Constantemente protegido pelo benévolo e virtuoso Henri Charrière, ambos eventualmente se tornam cúmplices e grandes amigos.

Papillon narra uma história baseada diretamente no livro homônimo escrito pelo próprio Henri Charrière, que foi publicado em 1970. O filme diverge do livro em diversas questões. Posteriormente, diversos estudiosos descobriram que Henri Charrière inventou inúmeras ocorrências fictícias em seu livro que foram apresentadas por ele como fatos reais. Hoje, recomenda-se que o livro seja lido unicamente como uma obra de ficção, que possui um moderado fundo de verdade em algumas passagens. Em 2017, o filme ganhou um remake dirigido por Michael Noer. Nesta refilmagem, Henri Charrière é interpretado por Charlie Hunnam e Louis Dega por Rami Malek.

Depois de Papillon, Steve McQueen interpretou Michael O’Halloran, o Chefe da Divisão de Bombeiros de São Francisco, no filme Inferno na Torre (The Towering Inferno). Lançado em 1974, o filme foi dirigido por John Guillermin e contou com um elenco de peso, com nomes como Paul Newman, William Holden, Richard Chamberlain, Robert Vaughn, Fred Astaire e Faye Dunaway – entre muitos outros – conduzindo a trama, em uma majestosa e excepcional combinação de talentos, que certamente foi o ingrediente responsável pelo estrondoso sucesso comercial da produção.

Como o título sugere, o filme é uma narrativa de desastre, sobre pessoas desesperadas para escapar de um enorme arranha-céu em chamas. Com roteiro de Stirling Silliphant, o filme foi uma adaptação direta de dois romances, A Torre, de Richard Martin Stern e O Inferno de Vidro, de Thomas Scortia. Um êxito de bilheteria, o filme foi indicado a oito oscars, ganhando três.

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Depois desse filme, Steve McQueen entrou em um prolongado hiato de sua carreira cinematográfica, que duraria quatro anos. Durante esse tempo, ele se dedicou a outra de suas grandes paixões, as corridas automobilísticas. Não obstante, ele também aproveitou muito de seu tempo livre para relaxar e desfrutar a vida. Sendo um astro de cinema muito bem remunerado – nesta época, chegou a ser um dos atores mais bem pagos do mundo -, não havia a menor necessidade para Steve McQueen de fazer filmes de forma prolongada, ininterrupta e recorrente.

Entusiasta dos veículos automotores desde a sua juventude, Steve McQueen jamais desperdiçava uma oportunidade de participar de corridas, fossem elas amadoras ou semiprofissionais. Sempre que haviam cenas de perseguição automobilística nos filmes de que participava,Steve McQueen fazia questão de estar em um carro dirigindo. Cenas mais arriscadas, no entanto, demandavam a participação de um dublê, o que era realizado por exigência dos produtores, que assinavam contratos com cláusulas de seguro. Sendo protagonista dos muitos filmes de que participava,Steve McQueen não podia correr o risco de se machucar, pois isso comprometeria o andamento das gravações. Não obstante – na metade da década de 1960 -, já era plenamente estabelecido na indústria cinematográfica ser impossível conseguir um motorista tão bom e tão habilidoso quanto Steve McQueen. Durante algum tempo, McQueen até mesmo considerou a possibilidade de se tornar um profissional das corridas.

Depois de alguns anos afastado da indústria – tempo que dedicou às corridas e automóveis, suas grandes paixões paralelas -,Steve McQueen voltou para as telas com o filme O Inimigo do Povo (An Enemy of the People), drama de 1978 dirigido por George Schaefer, que foi adaptado da peça do famoso dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, através de uma releitura de Arthur Miller. Nesse filme, Steve McQueen interpretou o personagem Thomas Stockmann, um médico que é confrontado por um terrível dilema, ao perceber que suas obrigações morais o colocam contra os interesses de todo o povo do vilarejo onde ele reside. Mostrando o conflito inerente que existe entre o indivíduo e o coletivo, o filme é uma excelente exposição da precedência da ética e da moralidade sobre a pressão de grupo.

Infelizmente, nesse mesmo ano, Steve McQueen começou a dar sinais de que estava doente. Ele desenvolveu uma tosse persistente, que o fez largar o tabaco e todos os demais vícios. No final do ano seguinte, em 1979 – como seus problemas de saúde persistiram -, ele consultou um médico. O ator acabou sendo diagnosticado com portador de um mesotelioma pleural, uma forma de câncer associada à asbestose, doença contraída pela exposição prolongada a uma substância tóxica chamada asbesto (cujo nome comercial é amianto).

Steve McQueen acreditava que essa exposição prolongada ocorreu durante seu período na marinha, onde ele trabalhou de forma recorrente removendo o revestimento de amianto dos canos de navios. Não obstante, ele também poderia ter contraído a doença em decorrência de suas experiências como piloto amador, visto que a exposição à substância poderia ter ocorrido em virtude dos capacetes e das roupas de proteção utilizadas durante as corridas, que contém componentes de amianto.

A partir do momento em que sua doença fora diagnosticada, o declínio de Steve McQueen foi muito rápido. Em 1980 – depois que várias metástases foram localizadas -, os médicos que o tratavam lhe deram apenas alguns meses de vida. Desolado, Steve McQueen foi em busca de tratamentos alternativos no México. No mês de outubro, ele foi até Ciudad Juárez, onde foi submetido a um procedimento para remover um tumor. Seus médicos o aconselharam a não realizar esse procedimento, alegando ser arriscado demais para a sua saúde, sobretudo para o seu coração. Não obstante, ele se sujeitou ao procedimento cirúrgico da mesma maneira. Por ter se registrado em uma clínica com um nome falso, Steve McQueen acabou sendo operado totalmente incógnito; ninguém da equipe médica tinha consciência de que na mesa de cirurgia estava sendo operada uma celebridade de Hollywood.

Infelizmente, a doença evoluiu, ao ponto de que absolutamente nada mais poderia ser feito. Steve McQueen veio a morrer em 7 de novembro de 1980, aos 50 anos de idade, no México, em um hospital de Ciudad Juárez, horas depois de ter passado por uma outra cirurgia, para remoção de tumores e metástases. A causa de sua morte foi registrada como um ataque cardíaco.

Nesse mesmo ano, seus últimos dois filmes foram lançados. Tom Horn é um faroeste baseado em fatos reais, sobre a vida do lendário Thomas Horn Jr. Nesse filme, Steve McQueen interpreta o personagem título, uma figura histórica do folclore yankee, que faz o que é necessário para sobreviver no selvagem, intempestivo e impiedoso oeste americano do final do século 19. Caçador Implacável (The Hunter) foi lançado em agosto de 1980. Neste filme dirigido por Buzz Kulik – igualmente baseado em fatos reais -, Steve McQueen interpreta Ralph “Papa” Thorson, um caçador de recompensas durão e ambicioso, que está sempre em busca das missões mais frenéticas e impossíveis de serem realizadas.

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Steve McQueen morreu há 41 anos, mas continua sendo uma das celebridades mais marcantes e espetaculares da sétima arte. A quantidade excepcional de homenagens e condecorações póstumas realizadas em sua memória mostram não apenas o gigante do cinema que ele foi, como expõem igualmente a lacuna que sua ausência deixou para o público, que só é superada pela sua grandeza magistral como ator e por sua impecável presença em todos os magníficos filmes que estrelou. Tanto sua vida como sua carreira foram de relativa brevidade; no entanto, seu legado permanece, e certamente conquistará novas legiões de entusiastas e amantes da sétima arte pelos anos que virão.

Por Wagner Hertzog.

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