O papel do homem na família atual

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8 de dezembro é comemorado o Dia da Família. Para comemorar essa data, compartilho um texto bastante interessante da psicoterapeuta Sheila Menezes falando sobre o papel do homem na família atual.

Em razão das inúmeras transformações por que vem passando o mundo atual, está-se vivendo hoje o que alguns teóricos vêm denominando uma “crise de identidade”. As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada ‘crise de identidade’ é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.

No caso dos homens, acredita-se que, em grande parte, o espaço deixado pela ausência da mulher de casa ao se inserir no mercado de trabalho, juntamente com a cobrança social que tem recaído sobre os homens para que expressem um comportamento mais participativo e envolvente nos relacionamentos afetivos e familiares, vem contribuindo para o surgimento de uma nova concepção de masculinidade, de modo geral, e de paternidade, em particular. Estudos apontam que, apesar de ainda lenta e gradual, já se pode perceber uma mudança nas relações entre os sexos e nos homens, de modo geral. Em parte a dominação masculina perdura, mas preferencialmente ela se pulveriza e perde o seu modo opressivo. Ao mesmo tempo, o gênero masculino se modifica, integra outros conteúdos, outros valores. Esse novo homem e novo pai, contudo, tem sido retratado como um homem que tem uma boa formação educacional, uma renda mais alta, geralmente provém das classes média e alta, e se afirma em ruptura com o modelo masculino tradicional.

A sociedade está em constante mudança. Isso é um fato que não se tem como negar. O homem hoje em dia está com um papel totalmente diferente na família e na sociedade, se comparado a 100 anos atrás. Durante todo o século passado, as pessoas tinham uma ideia de família burguesa vinda lá do século XVIII formado por pai, mãe e filho. A mãe era responsável por cuidar dos filhos (e da casa posteriormente) e o homem em trazer o sustento. Hoje em dia as coisas mudaram e pode-se observar formações familiares distintas do que se poderia ver a alguns anos atrás. A ideia de casamento para procriação, continuação da família e herança dos bens já não é mais a mesma e houve uma mudança clara nas formações familiares.

Hoje se têm mães e pais solteiros, casais sem filhos por opção, casais homoafetivos de ambos os sexos, famílias constituídas por avó, mãe e filho. Essa diferença das famílias atuais deixa claro uma mudança de pensamento (ou pelo menos uma tentativa de mudança) que sem dúvidas atingiu o homem diretamente. Ao mesmo tempo, ainda se tem modelos de famílias tradicionais convivendo com esses novos modelos de famílias. A estruturação social e familiar sempre foi hierarquizada por gêneros, com a aceitação de que homens e mulheres são “naturalmente” diferentes. Essa diferença é cobrada em vários aspectos: na sociedade, na família, em atitudes, em sentimentos, interesses ou comportamentos.

Isso é claramente visto com a cobrança que é dada aos homens ligando a sua virilidade e masculinidade com a manutenção econômica da família e uma responsabilidade protetora com os demais membros, mesmo que isso custe a alienação de seus sentimentos e seus afetos. O que se vê hoje é uma mudança de pensamento e diretrizes. O crescimento da economia, a mobilidade social ascendente, a inserção da mulher no mercado de trabalho, o crescente número de mulheres estudando e, principalmente, a luta feminina por igualdades que atingiram em cheio o pensamento, a presença e o papel masculino na família e na sociedade.

A mudança dos papéis na família atual é clara quando se vê mulheres sendo a principal provedora de recursos financeiros e homens sendo donos de casa. Isso seria algo inimaginável na família tradicional antiga e é visto hoje como um fenômeno inédito na evolução humana. Nesse novo modelo familiar, o homem deixou de ser o principal centro de tomada de decisões, tornando-se  um companheiro feminino nas obrigações e prazeres. A sexualidade passa a ser desvinculada da reprodução ou de uma resposta feminina ao desejo masculino, por exemplo. Também é esperado que o homem, seja ao menos, um coadjuvante na criação dos filhos e nos afazeres domésticos. Nessa nova dinâmica familiar, as necessidades emergentes substituem a hierarquia por gênero ou faixa etária e os direitos e deveres são compartilhados.

Essa nova imagem do homem para a família pode trazer muitos benefícios, mas também alguns malefícios. Um exemplo de benefício seria a proximidade do pai com o seu filho. Sem dívidas, um pai mais presente, com maiores demonstrações de afeto e com possibilidade de prover mais demandas infantis pode trazer vantagens à criança e na relação pai-filho. Um exemplo de malefício é que, por ainda se ter fortes ligações com ideais tradicionais, seja culturalmente ou socialmente, esse novo modelo de família pode trazer uma infelicidade para ambos: nem a mulher encontra o seu “príncipe encantado” e um pai protetor, nem o homem conquista a sua sensual parceira, que também seria uma mãe acolhedora.

O fato é que todos ainda divergem um pouco sobre o papel desse novo homem na família e na sociedade. O homem acaba tendo uma “crise existencial”, o novo homem deve não apenas dar suporte emocional e econômico à família, mas também deve respeitar a individualidade de sua companheira, demonstrar envolvimento na criação e educação dos filhos e participar, ativamente, nos deveres do lar. Mas por outro lado, vai encontrar partes e indivíduos na sociedade que ainda cobram um pai do século passado. O homem pode ter ainda o papel de liderança, apesar de que hoje em dia muitas mulheres lideram igual ou até mesmo melhor. Mas, seja na família ou em um grupo social, ele ainda é visto como um líder. Ao mesmo tempo, ele não é só mais o membro principal da família, aquele que trabalha para sustentar a casa, mas também aquele que divide tudo: trabalho, educação, afazeres domésticos.

Ao longo do tempo o homem foi obrigado a se adaptar às mudanças da sociedade e hoje ele divide com a mulher o mesmo posto que antes era apenas ocupado por homens. O papel principal dele? Dividir com a mulher as responsabilidades familiares e sociais.  Sob a perspectiva da família, o papel do homem deve ser o de dar suporte emocional à mulher, para que ela possa dar suporte emocional ao seu filho. Não se trata, portanto, da visão do homem como o “provedor”, o que garante o sustento econômico, mas sim do homem que está sempre atento às necessidades emocionais daqueles que integram o seu núcleo familiar. Ao exercer esse papel, o homem estará participando da construção de uma família capaz de reger um novo modelo social, no qual as pessoas conseguiriam respeitar mais a si mesmas e aos outros, em vez de priorizarem apenas o sucesso profissional.

Ao contrário do que era antigamente o homem não tem mais aquela obrigação de sustentar a família e assumir cargos de grande responsabilidade. Mas, existem grupos e indivíduos exigindo que  o homem ainda deveria ter o maior salário da família, pagar a maior parte das contas e auxiliar a mulher na criação dos filhos. E, muitos homens ainda têm um foco maior em seu papel na sociedade em relação aos cargos e salários e por conta disso acabam deixando a família em segundo plano. Mas isso é muito relativo, está diretamente ligado à criação, religião e princípios. Na realidade, hoje, o papel do indivíduo tanto na sociedade quanto na família pode ser exercido tanto por homem quanto por mulher. Não existe esta distinção, pois ambos estão cada vez mais independentes.

Sheila Menezes de Almeida.

Pedro Winicius23 Posts

Maranhense, 22 anos e apaixonado pela cultura Nordestina. Não dispensa um bom vinho e uma boa viagem.

1 Comentário

  • JOhn Nash Reply

    3 de janeiro de 2019 at 00:35

    engraçado que todos os textos que eu procurei a respeito sao escritos por mulheres, ironico demais

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