O Clube do Carimbo (também) é Você

Clube do Carimbo

Há algumas semanas uma notícia bombástica alarmou a comunidade gay, os amigos héteros e grande parte das famílias brasileiras, entre tias, mães, pais, tios, vovós, vovôs e até os vizinhos, é claro. Uma matéria do Estadão citou o “Clube do Carimbo”, homossexuais que infectam propositalmente os seus parceiros sexuais com o vírus HIV e propagam na internet dicas de como fazer isso.

Mas quem são estes monstros e como eles agem? Sites, blogs, páginas do facebook e diversos meios da mídias denunciaram, compartilharam, copiaram e colaram informações sobre o assunto. Em sua maioria, parece que os gays soropositivos furam as camisinhas antes das transas. As outras maneiras, porém, não ficaram muito claras, mas foram descritas como “diferentes técnicas de se fazer sexo sem proteção”. Mas quais técnicas são essas?

Sim, o mundo está repleto de psicopatas dos mais diversos tipos, entre eles, os que almejam infectar com HIV o maior número de pessoas possíveis. Contra estes, nos resta rezar para que nunca cruzem com o nosso caminho.

Também há os adeptos de bareback, expressão mais comum no universo gay, mas uma atividade também praticada entre os héteros, que consiste no ato de transar sem camisinha, seja com conhecidos ou desconhecidos. É a famosa expressão “trepar no pelo”, na qual dizem que o tesão aumenta, triplica e explode numa fúria regozijante. Você e eu sabermos que isso é verdade, mas não admitidos em público, talvez, apenas nos nossos pensamentos ou anonimamente. Por mais que você não seja praticante, uma vez ou outra, deve ter rolado aquela vacilada que faz com que 99,99% das pessoas fiquem tremendo antes de pegarem o resultado do exame de HIV e suspirem (ou não) aliviadas ao conferirem o resultado. E se exagerou no álcool, xiiiiiiiiiiii… Isso sem falar de outros psicotrópicos.

A questão é que existem sim monstros e demônios mas, as vezes, eles podem morar dentro de nós mesmos. Se partirmos do pressuposto de que o cara bonito da academia ou a mulher gostosa da balada não têm Aids, devemos transar sem camisinha com eles? Mesmo usando preservativo, vale a pena conferir se o mesmo não estourou depois da transa, seja você o homem ou a mulher, o gay ativo ou o gay passivo da relação. Caso tenha estourado, procure o tratamento gratuito que o governo oferece em casos de acidentes ou estupros. A profilaxia pós exposição (PEP sexual) ao vírus HIV precisa ser iniciada em até 72 horas após a exposição ao vírus e o tratamento pode durar até 28 dias contínuos. Aliás, por que o governo e o Ministério da Saúde não divulgam massivamente estas informações? Seria por medo de que todo mundo pararia de usar preservativos? Será que ficaríamos mais sujeitos a tal da “vacilada”? Olha, este caminho não é bem simples não.

Sem mencionar que eu sou repórter e estava fazendo uma matéria, eu fui até o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, na manhã desta terça-feira. Lá, eu peguei uma senha e fiquei aguardando ser atendido. No momento de fazer a ficha, fui questionado sobre o motivo da consulta e informei que havia praticado sexo sem camisinha. Após pegar a senha, fiquei aguardando por quase duas horas ser chamado para uma pré-consulta numa pequena sala. A enfermeira me fez as seguintes perguntas:

– Você teve algum tipo de relação sexual desprotegida?
– Sim.
– Há quanto tempo?
– Menos de 24 horas.
– E foi uma relação hétero ou homossexual?
– Foi com homem.
– Você foi ativo ou passivo na relação?
– Fui ativo e passivo.
– Houve ejaculação anal ou oral?
– Oi?
– A pessoa gozou dentro de você ou na sua boca?
– Sim.
– Ok, daqui a pouco o médico vai te chamar, fique atento na mesma senha.
– E o que vai acontecer?
– Provavelmente ele vai te pedir um exame para saber se você já não é soropositivo.
– Se eu peguei Aids hoje?
– Não. É para saber se você já não tem o vírus incubado. Muitas pessoas possuem o vírus e não sabem. Caso o resultado dê negativo, o médico irá prescrever um tratamento de até 28 dias, mas isso ele te explica melhor depois. Por favor, é só aguardar do lado de fora.

Por alguns segundos, esqueci que estava ali fazendo uma matéria (e com o meu exame de HIV em dia e com o resultado negativo). Ufa! E, mesmo assim, foi uma experiência horrível. Fui embora imaginando que ninguém em sã consciência transaria sem camisinha com a desculpa de depois poder tomar um coquetel durante quase um mês seguido. E vale lembrar que a eficácia não possui 100% de garantia, o tratamento causa enjoos, perda de apetite e deixa as pessoas sem libido durante todo o período. Ou seja, é muito deprê passar por tudo isso por causa de uma foda sem camisinha!

Na busca por vilões, e lembrando que os tais integrantes do Clube do Carimbo costumam agir em festas gays de alto nível que promovem orgias, eu cheguei até um dos fundadores da concorrida Fuckbuddy Party, que acontece num apartamento de bairro nobre de São Paulo, mais precisamente no Jardim Paulista. Sob a condição de permanecer no anonimato, ele topou dar uma entrevista para mim.

Como surgiu esta festa?

Antigamente, ela acontecia do centro da cidade, meio muquifenta, mal organizada e com um povo meio estranho. Mesmo assim, eu sempre frequentava. Depois de um tempo, o anfitrião começou a namorar, encerrou as atividades e os integrantes ficaram órfãos da putaria. Eu, que sempre fui descolado, me juntei a um amigo e resolvemos organizar uma festa do nível dos convidados que gostaríamos de ter e meter, com boa música, bebida liberada e, sobretudo, uma vibe legal.

E quem frequenta a Fuckbuddy Party ?

Gente muito bem selecionada. Não pode levar amigos e fazemos lista na porta. Quem não tá na lista, não entra. E não adianta insistir, a gente costuma falar muitos “nãos”.

Pré aprovamos as pessoas e descartamos quem faz carão. Esta é a filosofia da festa. Gente bacana, garotos tipo a balada The Week, que gostem de dançar, beijar, se divertir e, claro, com corpo e mente em dia. Ninguém é obrigado a ficar com ninguém, mas precisa ser simpático, interagir e fazer amigos. Se ficar fazendo carão, não convidamos mais. E, por isso, a vibe é sempre incrível.

Como acontece a organização?

A festa é gratuita e rola em alguns sábados do mês. Começa às 19h00 e vai até a meia noite. Mas, claro, as vezes tem uma turma de guerreiros que fica até umas três ou 4h da manhã.

Sempre fazemos um evento fechado no Facebook. Em média, chamamos entre 40 até sessenta pessoas.

Além dos “habitués”, costumo chamar uma turmar mais nova, para dar uma arejada. Se fossem sempre as mesmas pessoas, acabaria enjoando.

Eu preparo a casa forrando todos os móveis e as camas. Deixo tudo a meia luz e espalho lixeiras pelos cantos, para as pessoas jogarem as camisinhas. E bebidas, só na cozinha, para evitar sujeira. Ah, e não pode fazer padê, não curtimos esta vibe da cocaína. De resto, tá liberado, desde que seja controlado.

Fumar, só se no fumódromo, que eu estipulo que seja na área de serviço. É lá que rolam as primeiras conversas e pegações. Não tem guarda volume, mas posso dizer que nunca roubaram nada. As mochilas e roupas ficam todas num canto da sala, para evitar que fiquem mexendo nas coisas. Como você pode ver, até uma suruba precisa de uma boa organização, senão, vira bagunça.

E o principal para o sucesso, vou te dizer, eu tento equilibrar sempre mais ativos do que passivos. Porque se for meio a meio, acaba sobrando muito rabo pra pouca piroca. O ideal são 60% ativos e 40% passivos. E a preferência é para os pauzudos, é claro.

E costuma rolar sexo bareback?

Não! Mesmo se houver consenso entre as partes, não pode fazer bare. E quando eu vejo isso acontecendo, eu não convido mais pra nenhuma festa. É claro que não sou tão nazista assim e, as vezes, até reconvido se o cara for legal. Mas prefiro que não! É uma festa de sexo seguro, responsável… E se houver bare, deixa um clima tenso. Não quero ninguém contraindo HIV na minha casa. E se o cara já for positivo, não quero ninguém se contaminando embaixo do meu teto. Minha casa é um lugar abençoado, não quero bad vibes.

E você costuma convidar soropositivos para as festas?

Sim. E por isso sempre incentivo o uso de camisinhas. Ninguém que topa meter sem camisinha é soronegativo. Se o cara quer meter sem, provavelmente, ele tem o vírus ou é um vacilão. Todo mundo sabe disso! E se você não quer pegar, encape o pau. Mas aqui nas minhas festas não tem quem fure camisinha ou a estoure de propósito. Eu costumo meter muito, a minha vida sexual é bem agitada. Mas eu sempre uso camisinha. Eu tenho um parceiro fixo e zelo pela minha saúde e pela dele.

Acho que o negocio do HIV é uma coisa terrível. Quem tem, vive sob o medo e sob o estigma, além do preconceito da sociedade. Mas também sei que não é o fim da vida. Tenho muito amigos soropositivos. Como disse um cara do serviço social americano, que ficava em São Francisco, testando as pessoas para HIV: “Life doesn’t end! It’s changed”.

Mas, então, algumas pessoas costumam transar sem camisinha, mesmo sendo proibido por você? Neste caso, você não convida mais, mas se o cara for legal, você pode até reconvidar?

Isso. E se um dia resolver reconvidar, daria um toque para que isso não se repetisse. Mas olha, o meu papel não é alertar os outros. Meu papel é outro, é o de entreter, gerar um ambiente gostoso e propício para momentos agradáveis com boys gostosos. Se Deus que é Deus nos deu o livre arbítrio, quem sou eu para ficar impedindo as pessoas de errarem?

Texto do jornalista Felippe Canale.

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