Nebraska [ANÁLISE]
Nebraska foi indicado em várias categorias no Oscar desse ano, entre elas, a de Melhor Filme. Apesar de não ter sido tão badalado como “12 Anos de Escravidão” ou “Gravidade”, é um grande filme que certamente merece a sua atenção.
O diretor Alexander Payne tem um excelente portfólio quando o assunto são filmes sobre o comportamento humano, seja ele matrimonial, relação entre pai e filho ou, simplesmente, amizade em sua essência. Filmes como “As confissões de Schmidt (2002)”, “Sideways- Entre umas e outras (2004)” e os “Descendentes (2011)”, mostram que Payne tem imprimido essa identidade em seus trabalhos mais recentes.
Em Nebraska (2013), indicado a 6 Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator (Bruce Dern – em uma atuação incrível), Melhor Atriz Coadjuvante (June Squibb – igualmente inspirada) e Melhor Fotografia, não é diferente.
UM FILME SOBRE PAI & FILHO
O tema aqui é, essencialmente, o relacionamento entre pai e filho. David Grant (Will Forte) é filho de Woody Grant (Bruce Dern) e o relacionamento entre eles pode ser considerado quase que como inexistente durante anos. A trama começa com Woody acreditando ter ganho 1 milhão de dólares através de um cupom que recebeu dentro de uma revista.
A partir daí, a caçada pelo prêmio torna-se uma obsessão, fazendo com que ele tente chegar até Lincoln, capital do Nebraska, a qualquer custo para retirar o dinheiro, na sede da empresa. O problema é que ele mora em Montana e sua caminhonete está quebrada há anos. É aí que ele tenta, várias vezes, ir a pé até o Nebraska.
NEBRASKA É O TIPO DE FILME QUE VAI TE FAZER PENSAR SOBRE FAMÍLIA, ENVELHECIMENTO, DIGNIDADE, RESPEITO E CUMPLICIDADE.
Independente de o prêmio ser ou não verdadeiro, a busca incensante do velho Woody pelo prêmio, causa grandes problemas na família, já que além de sua idade avançada, ele é alcoólatra. Sua esposa, Kate Grant (uma June Squibb muito inspirada no papel), frequentemente critica Woody por suas atitudes, o que também denota um relacionamento bastante desgastado entre eles.
Em meio a toda essa bagunça, surgem os filhos. Ross Grant, o famoso Saul da série Breaking Bad, é um deles. É um cara bem sucedido em sua carreira de jornalista e com melhores condições financeiras. Porém, é o filho mais distante que, assim como sua mãe, vive condenando as atitudes do pai.
Já David Grant, é um simples vendedor de equipamentos de som em uma rede de varejo, aparentemente vivendo com um salário suficiente apenas pra viver. É ele o filho mais atencioso, apesar de não ter grande intimidade com o pai. Isso levanta uma questão: Seriam os mais “impossibilitados” aqueles que mais tendem a ser prestativos em contexto familiar?
O ATOR BRUCE DERN TEM EXCELENTE PERFORMANCE. A FORMA COMO ELE CAMINHAM FALA (OU DEIXA DE FALAR), A MANEIRA COMO SE VESTE, ENFIM, A FORMA COMO ELE RETRATA A DECREPITUDE DO PERSONAGEM. TUDO FAZ CRER QUE AQUELE PERSONAGEM REALMENTE EXISTE. É ATÉ POSSÍVEL QUE VOCÊ ENXERGUE SEMELHANÇAS COM ALGUM FAMILIAR ALI.
Por David aparentemente ser um cara mais prestativo e compreensivo, sobra pra ele a tarefa de levar o pai até Nebraska com seu próprio carro. E é durante essa viagem que os dois começam a se aproximar. Muitas vezes, de forma bastante bruta e desajeitada, os dois passam a trocar intimidades, o que faz com que haja uma maior cumplicidade entre ambos.
É durante essa aproximação que o pai revela ao filho o real motivo de desejar tanto dinheiro, já no final da vida o que a princípio, não justificaria tamanho esforço. É até possível fazer uma relação com a motivação do pai com aquela presente no personagem de Walter White, de Breaking Bad.
Durante essa viagem, nos são apresentadas belas paisagens, que parecem ainda mais bonitas pelo filme ser exibido em preto e branco. Talvez a intenção do diretor em rodar o filme dessa maneira, seja retratar o relacionamento monocromático entre pai e filho, nos colocando diante de imagens frias o tempo todo.
Vou enfatizar novamente as atuação de Bruce Dern e June Squibb. Em especial Bruce, por ser o protagonista do filme e realmente nos convencer de que é um senhor que aparenta ter mais do que sua própria idade. A forma como ele caminha, fala (ou deixa de falar), a maneira como se veste, enfim, a maneira como ele retrata a decrepitude do personagem. Tudo te faz crer que aquele personagem existe e é até possível que você enxergue semelhanças com algum familiar ali.
Will Forte também faz um belo trabalho como o bom filho, sendo possível já percebermos a sua essência nos primeiros minutos do filme. O último ato do filme acaba por selar a relação entre pai e filho, em uma cena um tanto inusitada e bela ao mesmo tempo. Resumindo, Nebraska é o tipo de filme que vai te fazer pensar sobre família, envelhecimento, dignidade, respeito e cumplicidade.
O próprio “ser” humano é colocado em questão, principalmente a capacidade de compreensão das pessoas, principalmente seus desejos. É bastante provável que você enfrente situações semelhantes durante a sua vida, seja com seu pai, mãe ou parentes.
Rodrigo Cunha96 Posts
Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.
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