E se todos deixassem de dirigir?

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Eu gosto de andar de taxi em São Paulo. Durante o meu tempo livre no banco de trás e entre diálogos com o taxista – que geralmente giram em torno do próprio trânsito ou política ou futebol ou tudo isso ao mesmo tempo – eu aproveito pra checar meus e-mails, redes sociais, ligar pra alguém, olhar a paisagem, observar gente dentro de outros carros – isso é sempre genial e quase sempre me faz rir.

Mas eu não vejo a hora de ter um motorista. Não um motorista tradicional, que senta atrás do volante, xinga os outros, comete erros. Falo de um veículo que seja comandado por um software conectado a uma rede de mapas online. Já imaginou se ele simplesmente sempre encontrasse a melhor rota pra você? O caminho com menos trânsito possível, que permitisse que você pudesse chegar nos locais sempre na hora certa sem precisar sair com horas de antecedência? Ah sim, o Waze nos ajuda muito. Mas ainda é preciso estar com as mãos no volante mantendo a atenção no trânsito. Não dá pra desocupar a mente.

E não é só isso. Basta olhar para a nossa malha viária. O Brasil possui 1 automóvel para cada 4 habitantes. Isso é insustentável não somente por conta do fluxo nas estradas. É insustentável também em termos de poluição do ar. E também sonora.

CADA DIA FICA MAIS DIFÍCIL TRAFEGAR PELAS RUAS, NÃO HÁ COMO NÃO ENXERGAR ESSA REALIDADE. E QUANDO CHOVE? PARECE QUE OS SEMÁFOROS DERRETEM. TUDO PARA DE FUNCIONAR, BASTAM ALGUMAS GOTAS

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Pense como seria não ter um carro próprio. Não, não. Vá além. Pense que antes de sair de casa, você pudesse entrar em um sistema através de um device wearable e fizesse o pedido de um transporte que fosse até a porta da sua casa em determinado horário – semelhante a forma como você pede taxi hoje através de mobile apps – informando ainda aonde você quer ir e a que horas. O sistema faria a análise de tráfego e rotas e te enviaria um veículo sem motorista na frente da sua casa, já informando a que horas você chegaria no destino informado. Tudo automatizado e guiado por software.

Ao entrar no veículo, sua única preocupação seria o que fazer, já que não precisaria se com mais nada além disso. Você poderia otimizar o seu tempo, lendo um bom livro, adiantando o seu trabalho ou simplesmente não fazendo nada. O veículo seria guiado de maneira suave, sem freadas, sem grandes arranques ou curvas sinuosas. Você faria uma viagem sempre tranquila. Ao sair do veículo, o pagamento seria automático. Você poderia comprar créditos mensais, anuais.

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“Mas aí os taxistas vão perder o emprego”, alguém disse lá no fundo. Aí entra a questão: pensar no bem maior, onde haveria benefícios para todos, além do próprio meio ambiente, economia e qualidade de vida. Já imaginou quantas vidas seriam salvas já que não haveria mais acidentes de trânsito? Bem, será que os taxistas não poderiam encontrar outro emprego, já que a própria economia seria beneficiada.

O BRASIL PERDE R$ 300 BILHÕES AO ANO POR CONTA DO TRÂNSITO NAS GRANDES CIDADES. O TRÂNSITO LENTO DE SÃO PAULO JÁ RESPONDE POR UMA PERDE DE 1% DO PIB DO PAÍS! ENTREGAS NÃO SÃO FEITAS A TEMPO. REUNIÕES QUE NÃO ACONTECEM. O TRÂNSITO FAZ A ECONOMIA PARAR.

Claro, estou falando de um cenário ideal, onde a inteligência que comandaria esses veículos seria muito próxima da perfeição. Pensando nos dias de hoje, já há carros com tecnologias que permitem manter o veículo sempre dentro da pista, ajudando a estacionar, denunciando a distância correta do carro que está a frente, avisando sobre perdestes e etc. Mas quem está comandando ainda é o ser humano. E nós erramos. E quando isso acontece no trânsito, há grandes chances de vidas serem colocadas em risco, certo?

Mas tudo vai depender da evolução desses softwares e sistemas integrados. O vídeo acima mostra um sistema de frenagem automático baseado em aproximação de outro veículo. Vale o play. O Google, ah o Google… Ele já possui um sistema bem avançado de mapeamento de ruas e estradas que todos nós utilizamos no dia a dia.

O Waze, sabiamente comprado por eles, oferece talvez a melhor solução para o trânsito dada a nossa realidade e tecnologia existentes. Essa tecnologia pra tornar realidade o carro automático sem motorista já existe. Não há nada de tão revolucionário que precise acontecer pra que isso torne-se real. O que faltam são ajustes. Muitos deles. Ah, claro, há barreiras comerciais nesse meio. Lobby.

Recentemente, a fabricante Tesla anunciou um novo modelo do seu Model S. Ele terá sistema de reconhecimento de imagens, além de um sistema de sonar que poder ver o ambiente em 360 graus e um radar de longo alcance que poderá reconhecer pedestres e sinais. O veículo poderá mudar de pista sozinho, além de evitar acidentes e obedecer o limite correto de velocidade. O veículo inteiro será conectado a internet e fará o download automático de updates de software todo mês.

O Google tem o próprio self-driving car. Nesse blog, dedicado ao projeto, você pode acompanhar todos os detalhes sobre a evolução. O vídeo aí em cima mostra um pouco do veículo se aventurando pelas estradas da Califórnia, em Mountain View.

O software passou por um update e agora pode detectar vários objetos se movendo simultaneamente em seu ângulo de visão, desde pedestres, ônibus, um guarda fazendo algum tipo de sinal, um ciclista gesticulando que vai mudar de faixa. O veículo pode prestar a atenção a tudo isso ao mesmo tempo de uma forma que nós humanos, não podemos. E o melhor? Ele nunca se distrai ou fica cansado 🙂

Recentemente, o Venturebeat publicou um ótimo artigo sobre carros automáticos sem motorista. Em um trecho do artigo eles citam: “Os self-driving cars farão para os motoristas humanos o que a carruagem sem cavalo fez com o cavalo e a charrete”. No mesmo artigo foi levantada uma questão bastante importante e um tanto incômoda.

PENSE NESSA SITUAÇÃO: VOCÊ ESTÁ DIRIGINDO E SURGE UMA SITUAÇÃO SEM SAÍDA, ONDE VOCÊ TEM QUE OPTAR ENTRE BATER EM UM CARRINHO DE COMPRAS OU EM UM CARRINHO COM UM BEBÊ DENTRO. VOCÊ CERTAMENTE OPTARIA POR ACERTAR O CARRINHO DE COMPRAS PRA DESVIAR DO BEBÊ, CERTO? MAS E O SOFTWARE? COMO FARIA ESSA ESCOLHA?

Além disso há também várias implicações de ordem jurídica. Já imaginou um acidente entre dois veículos desses veículos? Quem seria responsável se não há motorista? A fabricante do software?

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Ainda há muita, mas muita estrada pela frente. Por exemplo, já imaginou uma invasão hacker em um sistema do gênero que fizesse travar todos os veículos? Não há dúvidas de que esse tipo de veículo só estará disponível para operar nas ruas quando houver garantias de que os softwares poderão garantir a segurança de todos nós, levando quase a zero as chances de erro. Esses programas e a inteligência artificial, têm evoluído a cada dia. Os outros entraves de ordem jurídica e até lobbies, tendem a se resolver de maneira mais rápida a medida que o trânsito nas metrópoles vai piorando.

Quando a situação aperta de verdade, as coisas tendem a se resolver, não é verdade? Enquanto isso, seguirei observando as pessoas dentro de seus veículos e trocando ideia com os taxistas. Claro, vou comentar sobre esse artigo e perguntar se topariam perder o emprego em prol de tantos benefícios para o planeta. Depois volto aqui pra contar 🙂

Rodrigo Cunha96 Posts

Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.

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