O Abutre [ANÁLISE]
Jake Gyllenhaal é foda! #ProntoFalei
Pensei algum tempo sobre como iniciar esse texto e não encontrei outra maneira de dar o ponta pé inicial pra falar de Nightcrawlter (“O Abutre” – 2014). Digo isso porque Jake carrega o filme inteiro nas costas.
O roteiro de Dan Gilroy é apaixonante e magnético e também marca a estréia dele na direção. Mas é essencial deixar claro que sem Jake no elenco, provavelmente não teríamos o mesmo impacto. Quem assistiu ao emblemático Donnie Darko (2001), O Segredo de Brokeback Mountain (2005) – isso só pra ficar em dois projetos – sabe bem do que estou falando.
Em “O Abutre”, Jake encarna Lou Bloom, um cara desesperado pra encontrar um novo emprego. Vagando de carro pelas ruas de Los Angeles durante a noite, ele começa a perceber que atuar como jornalista freelancer na cobertura de desastres poderá lhe render um bom dinheiro. Lou passa então a cobrir todo tipo de assunto que a mídia sensacionalista poderá se interessar, incluindo assaltos a mansões, batidas de automóveis e todo tipo de ocorrência que seu scanner – adquirido exclusivamente para sintonizar a rádio da polícia – detecta.
Com vasto material captado através de sua câmera em mãos, Lou começa a negociar a venda das imagens para a diretora de um canal de TV sensacionalista de Los Angeles. A diretora Nina, interpretada por uma inspirada Rene Russo que já há algum tempo não interpretava um personagem de destaque, tem aqui um papel que certamente poderá lhe render uma indicação de melhor atriz coadjuvante em premiações vindouras.
Esse filme mostra bastante as entranhas de uma emissora que se preocupa com audiência acima de qualquer verdade – o que não é difícil de localizar enquanto você está zapeando com o controle remoto em mãos. Sabe o famoso Se sangrar, dá audiência?
A medida que Lou vai fornecendo material mais atraente e sangrento para a diretora, maior o valor que ele passa a cobrar. É preciso dizer que ele torna-se um exímio negociador e seu papel serve, até certo ponto, como inspiração em aulas de retórica, principalmente durante os diálogos com seu assistente dentro do Camaro.
Lou não é bobo e entende bem como funciona o circo da mídia. Tal percepção faz com que ele ultrapasse a barreira do bom senso e comece a gerar material que permite a ele criar uma empresa própria e a colocar a emissora e a diretora Nina – sempre em busca de maximizar a audiência do canal em constante queda – a seus pés.
Em meio a tudo isso, é bastante provável que Lou vai te fazer sentir medo. Ele e seu inseparável e belo Camaro. O que ele é capaz de fazer para agregar cada vez mais valor a seu material é inimaginável. MESMO. A forma como a sede por esse poder vai crescendo durante o longa é o que faz com que esse filme seja tão atraente.
No 1º ato vemos o personagem sendo construído de maneira bastante cadenciada. Ali já é possível identificar traços questionáveis em sua personalidade. Não apenas em diálogos, mas inclusive através de olhares. O 2º ato começa a te fazer sentir medo e projeta os tentáculos de Lou dentro da emissora. O 3º ato faz com que você levante do sofá e diga “Como você pôde fazer isso cara?!?”. Sinta o trailer legendado aí embaixo.
O ano de 2014 teve dois grandes longas que se preocuparam bastante em evidenciar e questionar o atual circo criado pela mídia em troca de audiência e entretenimento “a qualquer custo”. Gone Girl (“Garota Exemplar” – 2014), do mestre David Fincher, também mostra bastante como podem funcionar essas entranhas, porém de uma forma mais megalomaníaca e dramática. Em “O Abutre”, temos algo bem mais crú, porém não menos cruel e chocante.
Os dois longas reforçam a máxima: Não acredite em tudo que lê ou vê através da TV.
Seria ingênuo pontuar que as emissoras estão em guerra caçando audiência como nunca. Creio que seja mais adequado enfatizar o momento que todas estão enfrentando. Não somente emissoras de TV, mas jornais, rádio e todo tipo de mídia já estabelecida no século anterior.
Elas estão enfrentando uma transiçao/adaptacao para poderem se colocar entre as novas formas de comunicação muito mais dinâmicas que temos hoje a nossa disposição, como a segunda tela de nossos smartphones. Isso tem gerado uma série de tensões que são bastante perceptíveis em nosso dia a dia, principalmente quando falamos em canais de comunicação bastante tradicionais.
Dito isso, eu espero que você assista ao longa, apreciando o trabalho de Jake Gyllenhaal – que dá a alma pelo filme e certamente será indicado em algum prêmio como melhor ator – e reflita sobre o que a nossa sociedade tem buscado em troca de vantagens e mais vantagens, num cenário onde o senso de individualidade vem prevalecendo sobre a coletividade.
Eu espero que encontremos uma forma de atuar de modo mais coletivo através das novas ferramentas de comunicação. Por muitas vezes fico feliz de ver isso acontecendo mas logo noto que precisamos ainda evoluir muito, principalmente quando percebo o crescente número de pessoas que simplesmente não aceita uma opinião contrária em uma simples discussão de Facebook.
Rodrigo Cunha96 Posts
Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.
1 Comentário
Frederico
6 de fevereiro de 2015 at 08:48Ola Rodrigo!
Assisti o filme ha alguns dias e também curti. Vale a pena o destaque pela transformação que Jake Gyllenhaal passou para as filmagens… O cara está muito magro! Outro filme dele que vale o destaque é “Enemy” (O Homem Duplicado- 2014). Ele dá um show! O filme, adaptação da obra de José Saramago, com certeza tem seu lugar nas listas de 2014.
Só queria abrir um parentese para o carro que ele usa… É um Dodge Challenger e não um Camaro…
Muito boa sua Análise!
Valeu!