Ninfomaníaca – Parte I [ANÁLISE]
No sábado, assisti com minha esposa ao filme Ninfomaníaca – Volume I (Nymphomaniac – Volume I – 2003), do controverso diretor Lars von Trier, que também escreveu o roteiro. Falei sobre o filme pela 1ª vez aqui no TPH no dia 22 de novembro, quando postei o 1º trailer de Ninfomaníaca e os polêmicos pôsteres.
Eu, como muitos, fui atraído para o cinema por conta dos pôsteres e da polêmica que toda a história vinha causando. O longa vinha sendo vendido como o filme pornô de Lars von Trier. Não foi isso que me atraiu, mas o fato de entender como Lars contaria uma história através de um suposto pornô.
Todos os cartazes e trailers deixavam claro: tratava-se de um filme pornô. Mas, trailer é sempre a mesma história: os editores separam as cenas mais polêmicas, tomando cuidado pra não entregar o ouro, é claro, e comprimem ali, naqueles poucos minutos, cenas que te farão ficar antenado sobre qualquer novidade sobre.
Assim, fui acompanhando todas as novidades em torno do projeto. Me chamou bastante a atenção o tempo de duração do filme (5 horas), a estréia do filme no dia 25 de dezembro na Dinamarca (como um filme com essa temática estréia no Natal?) e as discussões em torno da edição do filme, com a consequente separação em duas partes. Sem falar, é claro, que o fato de Lars ser o diretor e roteirista, já me atraiu bastante.
Lars von Trier: sem dúvidas, um cara meio sinistro.
Não que eu ache Lars genial. Considero o trabalho dele provocante, sempre do contra, tratando de temas densos e cinzentos. É um cara que trabalha sempre contra a corrente e longe da zona de conforto. E Ninfomaníaca não é diferente, apesar de achar que trata-se do filme menos polêmico dele. É possível que seja até o longa mais “light” dele (talvez eu me arrependa de ter dito isso depois de assistir a 2ª parte!).
TEM BEM MENOS SEXO QUE VOCÊ IMAGINAVA
É difícil tecer uma análise mais apurada sobre o Ninfomaníaca, já que o arco principal da história fica bastante prejudicado por conta do final abrupto, pelo fato de o longa ter sido dividido em duas partes no cinema. Mas vou me arriscar, vem comigo. Ah, antes de qualquer coisa: se você pretende assistir ao filme, saiba que não irá se deparar com um filme pornô.
Ao menos nessa 1ª parte, há bem menos sexo que os trailers e pôsteres anunciavam. Talvez porque o filme que está nos cinemas passou por uma edição comercial – foi excluída quase 1h de filme! É possível que a edição original conte com cenas bem mais pesadas. Também é importante falar que essa edição do filme que está nos cinemas não passou pela aprovação de Lars von Trier. Mas certamente teremos uma versão do diretor completinha em DVD.
Tirando a cena do trem, onde você acha que a coisa toda vai descambar só pro lado da putaria mesmo, todo o restante apenas flerta com o real sentido da categoria “pornô” no cinema. Sobre o filme, a história é bem interessante e você acaba se envolvendo logo nos primeiros 30 minutos de projeção. A 1ª parte é dividida em quatro capítulos e a 2ª, que deve estrear em Março, mais quatro. É um filme bastante sensorial e exige que o espectador assista de cabeça aberta. Há bastante grafismo na edição dessa 1ª parte, principalmente nas cenas que misturam sexo com matemática e pescaria!
TRAGICOMÉDIA + UMA THURMAN
Particularmente, considero o capítulo com Uma Thurman (aqui bastante diferente do que estamos acostumados a ver, principalmente fisicamente) o melhor, por trazer o humor negro sempre presente na direção de Lars von Trier. É o capítulo mais tragicômico da 1ª parte da projeção. Quase mais cômico do que trágico, já que durante grande parte dele, o cinema cai em gargalhadas em diversos momentos. Durante esse capítulo, alguém que estivesse entrando na sala de cinema, jamais imaginaria se tratar de um filme de Lars von Trier. Mas também é fácil enxergar o quão trágico são aqueles momentos cômicos.
A bela Stacy Martin, que faz o papel de Joe, a Ninfomaníaca do título, convence bastante como um verdadeiro personagem perturbado, principalmente após a metade do filme. As circunstâncias que a levam a se tornar uma viciada em sexo são inúmeras. Certamente, desde jovem ela sempre sentiu um apreço além do normal por sexo. Mas são os dramas enfrentados que agravam o vício, quase que utilizando o sexo como válvula de escape.
Ah, a cena mais tragicômica de todo o filme.
GAINSBOURG JAMAIS SERIA UMA “MARTIN MAIS VELHA”
No entanto, como todo o filme se passa com Joe contando toda a sua história para um senhor que a encontra jogada na rua e resolve a acudir em casa, logo no início do filme, fica difícil de aceitar a troca de atriz entre esses dois momentos. Stacy Martin interpreta Joe aos 20 e poucos anos, enquanto que Charlotte Gainsbourg faz as vezes da personagem mais de uma década depois, no quarto com o senhor.
O problema é que Charlotte não lembra fisicamente Stacy em absolutamente nada, levando o espectador até a se questionar sobre o fato de ela estar narrando uma história sobre si mesma. Seria fácil utilizar a Stacy e torná-la mais velha sem grandes problemas utilizando alguns truques de maquiagem.
Stellan Skarsgård é outro que vale a pena falarmos. Parecendo bem mais velho do que realmente é, Skarsgård faz o papel de Seligman, o tal senhor que encontra Joe jogada na rua. Seligman também protagoniza alguns momentos cômicos, principalmente nos paralelos traçados entre sexo e pescaria. Menos cômicos e não menos interessantes, são os paralelos traçados entre sexo, matemática e música clássica.
Saia justa.
SEXO E BACH: TUDO A VER?
Seligman é fã do compositor de música barroca, Bach, e utiliza várias notas de sua música para analisar ….. o sexo. Esse trecho pode até se tornar monótono para alguns, talvez por ser um dos trechos mais densos do roteiro na 1ª parte do filme.
Aí chegamos a Jerôme, interpretado por um Shia LaBeouf muito diferente daquele que estávamos acostumados a ver em Transformers e Indiana Jones, só pra citar dois. Temos aí um dos melhores personagens dessa 1ª parte. Bastante cômico em diversas passagens, Jerôme é um típico loser, mas que se dá bem em várias ocasiões. Ele é o grande amor de Joe, por ser o rapaz que tira a virgindade da moça.
Vale o destaque também para Cristian Slater, que há muito não havia estrelado um papel de relevância no cinema. Ele faz o pai/mãe de Joe, já que a mãe mostra-se bastante ausente durante a 1ª parte. É durante um momento de crise entre o pai e filha, que Slater mostra o melhor de si na telona.
VALE A PENA?
É interessante e até pouco provável na vida real, o arco final da 1ª parte, que dá uma guinada na vida de Joe, encerrando com uma revelação um tanto aterrorizante. E é aí que, infelizmente, o filme termina e começam a rolar os créditos do lado esquerdo da tela, exibindo do lado direito, várias cenas da 2ª parte que está por vir em Março. E é aí que percebemos, pelo menos pelo recorte de cenas ali exibidas, que a coisa vai ficar muito mais dark e até talvez um tanto apelativa. Mas é esperar pra ver.
Não apenas para fãs de Lars von Trier, mas para amantes de cinema, recomendo Ninfomaníaca tranquilamente, principalmente pelos personagens, todos muito bem construídos, sejam eles tragicômicos ou dramáticos.
Rodrigo Cunha96 Posts
Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.
1 Comentário