Desvalorização das coisas: fácil acesso reduz valor da obra?

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Você é assim como eu? Ainda gosta de comprar coisas físicas? Talvez seja até forçação de barra falar “coisa física”. Fica parecendo que tudo se desintegrou, que tudo é virtual. Graças a Deus, não. Ainda não. Ainda há substância, se é que você me entende 🙂

Eu sou um purista em determinadas coisas. Um velho romântico por assim dizer. Ainda valorizo uma bela capa de disco. Por Deus, como não apreciar a capa de um Dark Side of The Moon (Pink Floyd), Revolver (Beatles), Aladdin Sane (David Bowie), Miles Davis (A Kind of Blue), Ramones (Ramones), London Calling (The Clash) e tantos outros? Quando eu seguro esses discos, rola química. É caso de amor mesmo.

~BONS TEMPOS~

Aí você tá lá, em olha loja de discos ou uma grande livraria, segurando uma pérola dessas e logo encontra alguém pra falar sobre. Ideia vai, ideia vem, você logo acaba conhecendo outras preciosidades. E claro, o inevitável “Esses caras eram os mestres, tudo que existe hoje é baseado neles”. E não é verdade?

Melhor ainda, eu lembro quando tinha uns 17 anos e ia na casa de amigos simplesmente pra ouvir música. Levava discos, ouvia outros e sempre andava com fitas virgem pra poder gravar tudo que eles tinham de bom. Foi assim que eu praticamente conheci todos os meus heróis da música.

É por isso que eu gosto da coisa física. Discos compõe uma bela prateleira, onde você consegue expor parte da sua personalidade. A mesma coisa funciona com os livros. E eu acho sensacional uma casa tomada por discos e livros. Sempre há gente interessante morando nelas. Nem preciso falar de bares e pubs que optam por esse tipo de decoração. Me ganham fácil na preferência, principalmente aqueles que possuem sebo na parte de trás – na Praça Roosevelt, em São Paulo, há um desses que dá pra morar dentro 🙂

tl-horizontal_main_2x_NEWQuem resiste a uma poltrona segurando a capa do disco, analisando encarte com letras e degustando boa cerveja com boa música?

Mas como fica o “valor” de todas essas coisas com a mídia digital? Como andam as prateleiras de discos? E as estantes da mini biblioteca da sua casa? Como você expõe os seus troféus que tanto ama e valoriza? Ah, eles ficam armazenados no iPhone e os livros todos no Kindle, certo? A sensação de poder carregá-los pra tudo que é lado é incrível, não é mesmo? Certamente. Mas o papo aqui é outro. Estou falando de VALOR.

Vem comigo: lá atrás comprar algo físico era a única alternativa. Depois passamos a poder comprar coisas digitais. Por que, quando você realmente gosta de algo, prefere comprar em mídia física ao invés de digital? Talvez porque você prefira ver na sua estante algo que valoriza muito. Mais do que aqueles discos e livros que têm apenas em versão digital. Por aí já é possível notarmos um julgamento de valor, certo?

Continuando, vamos tomar como exemplo a Amazon e a Apple, que recentemente começaram a sentir uma grande mudança em suas lojas online, onde vendem livros, músicas e filmes, essencialmente. Algo que já vinha sendo apontado há algum tempo, finalmente começa a refletir no business dessas grandes:

AS PESSOAS ESTÃO PREFERINDO ALUGAR A COMPRAR. OPTAM POR ACESSAR AO INVÉS DE TER. A FACILIDADE DE ACESSAR MÚSICA E VÍDEO É TAMANHA QUE FAZ COM QUE A COMPRA PERCA TODO O APELO QUE SEMPRE TEVE

Isso representa uma grande mudança no business dessas empresas e já está começando a mexer com parte da economia, pois o valor dessas transações tende a ser menor. Tome também como exemplo os streamings de música e vídeo. Você passa a acessar e não mais a armazenar. Deixa de ter. E a facilidade de acessar tira todo o apelo da compra. E onde fica o valor?

MICROMUNDOS E FRAGMENTAÇÃO POR TODOS OS LADOS

Ficou fácil demais achar qualquer coisa. Encontrar um artista mainstream é tão fácil quanto encontrar uma banda indie. Agora você está conhecendo novos artistas baseado no “mundo” que você frequenta na internet. Talvez a sua timeline te faça perceber que estamos vivendo novamente a década de 90. Ou talvez você perceba que o revival dos 80 continua.

Já outros vão dizer que o tipo de música feito na década de 70 está voltando. E outros vão dizer que a música de hoje não tem relação alguma com o que já foi composto um dia e que a música eletrônica é o único estilo que apresenta novidades. Tudo depende do nicho em que você vive. Tudo vai depender das fontes que você busca, dos feeds que assina, das pessoas que segue, dos amigos e tipos de conversa que têm nos bares da vida. São vários micromundos. A internet só potencializou isso.

compact-studio-apartment-design__NEWProcurar trofeus na estante de discos: a sensação de redescobri-los é sempre inédita

Por conta dessa fragmentação talvez os grandes shows de estádio poderão um dia, deixar de existir. O conceito de mainstream na web faz cada vez menos sentido, já que você constrói o seu mundo do seu jeito aí na frente do seu monitor. Quem lota estádio hoje são artistas de ontem. As novas bandas não duram o suficiente pra arrematar milhões de fãs mundo afora.

A concorrência é também muito maior e a audiência há muito, está fragmentada em demasia. Talvez seja por isso que hajam tanto festivais de música pro aí. Você passa a conhecer artistas fortes em outros nichos, que não fazem parte do seu “mundo” e economicamente tudo fica viável, já que esses artistas passam a ampliar seus nichos e os shows lotam por consequência da mistura de tribos. Não estou dizendo que não há mais bandas capazes de lotar um estádio de futebol. Elas existem e eu acho que continuarão a existir, só que cada vez em menor número.

A DESVALORIZAÇÃO DAS COISAS?

Sem TER material físico, você deixa de TER os troféus. Deixa de olhar todo dia para aqueles discos, livros que tanto ama. Deixa de lembrar deles já que o novo sempre vai estar acessível no seu smartphone. Afinal, pra que ocupar lugar no seu HD ou na sua estante se você pode acessá-los, a hora que quiser e onde estiver? Não é bom demais? Certamente que sim.

Só que eu já fui um cara que colocava tecnologia em 1º lugar. Hoje meu sentimento com relação a ela divide espaço com a noção de valor das coisas. Pra mim, toda essa facilidade desvaloriza o valor que tudo isso possui. O “inacessível” gerava um desejo por algo que precisava ser suprido. E para ser suprido, exigia um esforço, muitas vezes bastante grande. Quantas vzes você ouviu dos seus pais que você só valoriza algo depois que compra com o próprio dinheiro?

painted_bookcase_lg_NEWDar de cara com os trofeus na sala e poder exibí-los a seus convidados não tem preço

Já temos acesso a quase tudo através de um toque na tela. A meu ver livros e discos – só pra reduzirmos o escopo, já que a coisa vai longe – perdem valor com toda essa facilidade. Tome por exemplo o lançamento do último álbum do U2. Ele ter sido disponibilizado pra todos que possuem uma conta no iTunes, ao redor do mundo, fez com que a minha percepção de valor fosse afetada no momento em que fui ouvir ao disco.

Por outro lado, certamente você leu a respeito sobre o número recorde de pré-vendas obtido pelo Pink Floyd na Amazon, com o lançamento do novo disco. Pré-venda de mídia física! Então quer dizer que Pink Floyd tem mais valor do que muita coisa que baixamos por aí? Merece ser comprado e exibido na estante? E quando essas bandas não estiverem mais por aqui?

Ah, isso não vai acabar porque as próximas gerações vão descobrir esses artistas e continuarão comprando, como ainda compram Beethoven e Mozart. Talvez sim. O ponto é: um novo conceito de valor vai surgir? Bem, esse que vos escreve nutre uma bela estante de livros e discos que ama de coração. Servem como fonte de inspiração pra tudo que eu faço. E certamente, irei transferir tudo isso aos meus filhos 🙂

Talvez, no meu micromundo que seguirá existindo, isso sempre fará sentido.

Rodrigo Cunha96 Posts

Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.

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