100 anos de Jack Kerouac

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Jean-Louis Lebris de Kérouac — mais conhecido como Jack Kerouac — foi um popular e reconhecido romancista americano que, juntamente com os seus amigos, o poeta Allen Ginsberg e o romancista William Burroughs, tornou-se um dos expoentes do movimento cultural e literário que ficou conhecido como “Geração Beat”.

Kerouac nasceu em 12 de março de 1922, em Lowell, Massachusetts, de pais franco-canadenses. Durante a sua infância, ele só falava o Joual, o dialeto francês de Québec. Kerouac aprendeu a falar inglês apenas aos sete anos de idade, e até a juventude permaneceu falando com um sotaque ostensivamente pronunciado. Não obstante, durante toda a sua vida adulta, Kerouac falava francês em casa e chegou até mesmo a escrever inúmeros textos nesse idioma.

Com uma vida extremamente peripatética, Kerouac teve uma vida errante, se mudando constantemente por diversas regiões dos Estados Unidos, e aceitando todo o tipo de trabalhos para ganhar a vida. Como estudante, chegou a ingressar na universidade de Colúmbia e trabalhou na marinha mercante de julho a outubro de 1942. Épocas de extrema atividade eram intercaladas com períodos de ócio criativo, nos quais Kerouac lia e escrevia.

O primeiro livro de Kerouac, “The Town and the City”— publicado no Brasil sob o título de “Cidade Pequena, Cidade Grande” — foi lançado em 1950. Mas foi apenas com a publicação de On the Road, em 1957, que Kerouac foi alçado para a fama, tornando-se um dos maiores fenômenos literários do século 20.

Em “On the Road” — livro altamente autobiográfico, como é praticamente toda a literatura produzida por Kerouac —, o autor conta a história de Sal Paradise e Dean Moriarty, personagens baseados no próprio Kerouac e em Neal Cassady, indivíduo que foi fundamental para o desenvolvimento do movimento literário beat, por meio de sua associação com Jack Kerouac e Allen Ginsberg.

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Um prolífico autor de cartas, Neal Cassady geralmente escrevia longos parágrafos sem respeitar formalidades gramaticais. O estilo de Cassady teve um profundo efeito em Kerouac, que o incorporou no que posteriormente chamou de prosódia bop espontânea, um estilo de prosa baseado no fraseado do jazz, gênero musical favorito de Kerouac. Influenciado por Kerouac, Cassady chegou a cogitar a possibilidade de tornar-se um escritor profissional, mas acabou desistindo. O “Primeiro Terço”, seu único livro, foi publicado postumamente, incompleto, em 1971.

Em “The Town and the City”, seu primeiro livro, Kerouac ainda não havia desenvolvido o seu estilo singular de prosa. Demasiadamente influenciado pelo estilo clássico de Thomas Wolfe, em seu primeiro romance Kerouac ainda perseguia formalidades literárias típicas de um principiante. Em On The Road, no entanto, Kerouac revolucionou a literatura contemporânea, ao explorar possibilidades linguísticas e sonoras com uma originalidade até então inédita na língua inglesa.

Escrito originalmente em um período de três semanas, em abril de 1951, “On The Road” foi datilografado em um enorme rolo de papel de 36 metros. Kerouac emendou as folhas de papel, para que pudesse digitar continuamente, sem ter que comprometer a sua inspiração por ter que alimentar a máquina de escrever constantemente. Assim, ele poderia praticar a sua prosódia bop espontânea livremente; por ser um estilo similar ao fluxo de consciência, o autor não queria comprometer seu impulso criativo com interrupções desnecessárias.

Publicado em 1957 pela Viking Press, On The Road foi um livro altamente editado. Centenas de páginas foram excluídas. O autor também usou os nomes reais de todos os seus amigos e conhecidos, mas o editor sugeriu a Kerouac que desse nomes fictícios a todos os personagens do romance para evitar processos judiciais.

Apesar de On The Road ter sido o romance literário que o alçou para a fama, Kerouac ficou profundamente ressentido com o resultado final. A versão original, exatamente como foi concebida por Kerouac, foi publicada — sob o título de “On the Road: the Original Scroll” — apenas em 2007, em comemoração aos 5o anos do livro. Em 2012, uma adaptação cinematográfica foi lançada. Dirigida pelo brasileiro Walter Salles, o filme contou com Garrett Hedlund e Sam Riley nos papéis principais.

Evidentemente, On The Road foi o livro de maior sucesso de Kerouac, mas ele publicou dezenas de outros livros tão fascinantes e interessantes quanto; assim como o seu romance mais famoso, a maioria dos seus livros são de caráter radicalmente autobiográfico. The Dharma Bums (Os Vagabundos Iluminados), The Subterraneans (Os Subterrâneos), Lonesome Traveler (Viajante Solitário), Book of Dreams (Livro dos Sonhos) e Satori in Paris (Satori em Paris) são alguns exemplos de outros títulos que integram a sua vasta obra.

Infelizmente, Jack Kerouac morreu com apenas 47 anos de idade, em 21 de outubro de 1969, em virtude de uma hemorragia abdominal causada pelo seu alcoolismo, hábito de uma vida inteira de excessiva bebedeira. Se estivesse vivo, Kerouac completaria cem anos de idade no dia 12 de março. Em sua cidade natal de Lowell, Massachusetts, uma série de eventos foi programada para celebrar o centenário do seu mais ilustre e renomado cidadão.

Assim como muitos de seus contemporâneos — dentre os quais poderíamos citar Charles Bukowski —, Kerouac sempre foi ostensivamente ignorado pela crítica e pela academia, que nunca apreciou a sua obra, assim como nunca hesitou em classificar injustamente o seu trabalho como pseudoliteratura. O famoso autor Truman Capote chegou a afirmar que Kerouac não escrevia, mas tão somente datilografava. Adicionalmente, por ter sido dado a revisões, em graus maiores ou menores, a depender do livro, muitos de seus críticos afirmam que a prosa de Kerouac era tudo, menos espontânea.

Há décadas, os livros de Kerouac são publicados no Brasil pela editora L&PM, tanto em formato de bolso, quanto no formato convencional, estando disponíveis em praticamente qualquer grande livraria das principais capitais. Para quem aprecia boa literatura, vale a pena conhecer. Para quem já conhece, sempre vale a pena revisitar. De minha parte, parafraseando Eduardo Bueno — o ilustre tradutor gaúcho de On The Road —, só tenho a agradecer: “Obrigado, Jack”.

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Colaboração: Wagner Hertzog.

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