Watch Dogs: afinal, o que as pessoas esperam de um game?
Falar sobre Watch Dogs, a nova franquia da Ubisoft , é um tanto complicado. Por essa razão, deixei passar um pouco o hype, que já existia desde o anúncio oficial, na E3 de 2012, quanto todos viram algo quase inacreditável, e foi amplificado após o dia 27 de Maio último, quando o game finalmente foi lançado. E polêmica é o que não falta quando se fala em Watch Dogs.
Como você já deve ter lido zilhões de reviews por aí – incluindo diversos #mimimis – optei por não fazer uma análise de Watch Dogs, mas falar sobre o que as pessoas realmente esperam de um game. Antes disso, vamos a alguns fatos: pra começo de história, logo após o lançamento, o que mais se ouvia estava relacionado a qualidade gráfica.
Afinal, os gráficos do produto entregue pela Ubisoft estavam realmente aquém daquele jogo “revolucionário” apresentado em 2012. Soma-se a isso a questão do hype excessivo sobre o título durante os dois últimos anos.
Mas antes disso, muita gente já estava se decepcionando com o game. O título estava programado para ser lançado junto com a nova geração de consoles, em Novembro do ano passado. Na última hora, a Ubisoft anunciou que o game seria adiado, sem divulgar uma nova data, o que deixou muita gente decepcionada.
“As pessoas estão consumindo mais notícias relacionadas a games do que realmente jogando?”
O motivo do adiamento? Segundo a empresa, o game precisava de polimento extra. Acredita-se que GTA V, lançado no mês de Setembro, tenha forçado a Ubisoft a trabalhar melhor o seu título, dada a qualidade do game da Rockstar.
Mas vamos deixar um pouco a questão gráfica de lado. As pessoas estão consumindo mais notícias relacionadas a games do que realmente jogando? As vezes me parece que sim, já que é bem comum pessoas tecerem opiniões relacionadas a um título sem sequer tê-lo jogado, muitas vezes baseadas em comentários em sites, blogs ou até mesmo, em um vídeo em baixa resolução do YouTube.
Parece também haver o fator “ódio” relacionado a um lançamento de peso. A franquia Call of Duty tem enfrentado esse tipo de problema nos últimos anos e, mesmo assim, vem vendendo muito. Os fanboys colaboram bastante para que esses movimentos ocorram, perdendo bastante tempo discutindo, discutindo e, depois, discutindo novamente. É algo que a web vem potencializando, e não diz só respeito a games. É mais gente lendo sobre do que realmente experimentando.
“Exigir que as histórias de games tenham padrão de cinema não seria inocente ou até pretensioso demais?”
E com relação a games, parece estar havendo uma espécie de paranóia técnica. Gente que se incomoda com a resolução do game a ponto de detestá-lo e praticamente condenar quem não se importa com esses números ou joga um jogo em uma plataforma que oferece desempenho inferior a outra. São apenas dados técnicos, números. Afinal, não é a diversão o que deveria importar aqui?
Voltando a Watch Dogs, há muita gente também reclamando da história do jogo. Primeiramente, devemos lembrar que trata-se de um game. Exigir que as histórias de games tenham padrão de cinema não seria inocente ou até pretensioso demais? São mídias diferentes, afinal de contas, com diferentes tipos de propósito. Quando alguma produtora resolve lançar um título com foco maior na história, muita gente reclama ainda assim.
As pessoas reclamam porque geralmente, quando a história se aprofunda demais, a diversão é colocada de lado. Tudo tende a ser mais lento. Videogames são feitos para nos divertirmos o que não impede, é claro, de termos boas histórias contadas nessa mídia. A série Metal Gear Solid, Final Fantasy, The Last of Us e tantos outros, estão aí pra provar isso. O que não dá é pra exigir algo digno de Oscar. É preciso saber separar as coisas.
“O problema é que quando o #mimimi começa, as pessoas apontam problemas que não apontariam não fosse uma histeria que começa a acontecer em pequenos grupos e depois toma forma na web”
Tendo isso em mente, eu gostei da história de Watch Dogs. Ela está ali pra fazer todo o tema baseado em hackers e hyperconectividade, funcionar. Ou você acha a história de GTA V digna de Oscar? Provavelmente não, mas ela também funciona muito bem, e ajudou a fazer o game da Rockstar brilhar.
O problema é que quando o #mimimi começa a rolar, as pessoas comecem a apontar problemas que não apontariam não fosse uma histeria que começa a acontecer em pequenos grupos e depois começa a tomar forma na web. E isso não se restringe a games, é claro.
É um tal de nego concordar com algo só porque alguém falou, que não tá no gibi (quem tem Facebook sabe muito bem do que eu estou falando). E esse tipo de coisa tende a te influenciar se você não tomar cuidado. Já experimentou ler a crítica de um filme antes mesmo de assisti-lo e tentar não ser influenciado? É complicado.
“Um game, assim como um filme, música, jamais serão perfeitos. Cada um enxerga a “perfeição” de maneira distinta. E é aí que está a graça. Imagine um mundo onde tudo é perfeito aos olhos de todos. O que seria a perfeição, se tudo é igual?”
Cheguei a ler muita gente falando mal da mecânica de hackear objetos, já que a maioria desses momentos acontecem de maneira bastante objetiva, pressionando apenas um botão. Há momentos onde há algo mais rebuscado, fazendo com que você monte um breve puzzle, semelhante aqueles presentes em Bioshock 1 e 2, onde você deve ajustar o fluxo da conexão de um ponto A até o ponto B. Mas nada complicado, ou seja, o objetivo aqui não é hackear algo de verdade. É a diversão. Do contrário seria monótono demais.
Também há bastante gente reclamando sobre o fato de o personagem, Aiden Pearce, não poder atirar em perseguições de carros, como acontece em GTA. Mas poxa, não estamos em um game onde a principal arma é hackear objetos?
Seria exagero comparar a ctOS ao Google ou mesmo ao Facebook. Mas é impossível não pensar a respeito”.
Um game, assim como um filme, música e afins, jamais serão perfeitos. Cada um enxerga a “perfeição” de maneira distinta. E é aí que está a graça. Imagine um mundo onde tudo é perfeito aos olhos de todos. O que seria a perfeição, nesse caso, se tudo é igual?
Watch Dogs aborda um tema bastante interessante e atual, contanto uma história que se baseia em pessoas que se tornaram um amontoado de dados (Big Data) que são analisados por uma corporação, a ctOS. O personagem central, através de um smartphone, é capaz de hackear o telefone de qualquer pessoa nas ruas, passando a saber nome, idade, busca mais frequente no Google, qual o valor de sua conta bancária, profissão, se já cometeu ou não adultério, e uma infinidade de outras informações, incluindo até alguns dilemas morais como por exemplo, escolher entre roubar ou não dinheiro de uma pessoa que está tratando o câncer.
Seria exagero comparar a ctOS ao Google ou mesmo ao Facebook. Mas é impossível não pensar a respeito. Estou jogando o game na versão PS3,que é sim inferior a versão lançada para PS4 (e não podia ser diferente, afinal, são consoles de gerações diferentes, certo?), por exemplo, que possui resolução e textura melhores.
Mas o fator diversão é idêntico nas duas versões. E isso pra mim é o bastante, já que pretendo mudar de console somente próximo do final desse ano ou, quem sabe, talvez só no início do ano que vem, já que os títulos que realmente apresentarão um salto de geração considerável, saem só no ano que vem.
“Watch Dogs é só um game, como tantos outros. E não há nada demais nisso. Afinal, games estão aí pra divertir e ponto final. Mas, pra todos que querem que eles sejam algo mais, talvez seja por isso que os óculos de realidade virtual estejam chegando. Mesmo com neles, um game será apenas um game, até segunda ordem”.
A cidade de Chicago, reproduzida em Watch Dogs, é bastante interessante e fui pego várias vezes caminhando pelas esquinas, entrando em cafeterias, passeando de trem, indo até o subúrbio, voltando para a cidade. GTA tem tudo isso e mais um pouco – inclusive o mapa de GTA V é maior – mas Watch Dogs tem o seu charme, e também agrada aqueles que gostam de jogos de mundo aberto.
Há sim semelhanças aqui com Assassins Creed, Splinter Cell e GTA. E essa mistura trabalha em conjunto pra apresentar um título com uma identidade própria, que nasce dos melhores elementos desses títulos em que se inspirou, dando a sensação de se estar jogando todos eles ao mesmo tempo.
Eu também esperava que a qualidade gráfica fosse algo muito próximo aquela apresentada na demo de 2012. Mesmo assim, o game é bonito, independente da plataforma em que se joga, e a temática consegue ser interessante o suficiente pra te entreter por horas. Watch Dogs não muda o mundo, nem a vida de ninguém.
Ele é só um game, como tantos outros. E não há nada demais nisso. Afinal, games estão aí pra divertir e ponto final. Mas, pra todos que querem que eles sejam algo mais, talvez seja por isso que os óculos de realidade virtual estejam chegando. Mesmo com neles, um game será apenas um game, até segunda ordem 🙂
Números não chegam a atestar a qualidade de algo, mas Watch Dogs vendeu mais de 4 milhões de cópias na 1ª semana de lançamento, ultrapassando os números de todos os lançamentos da UBisoft. As críticas negativas e todo o #mimimi, aparentemente, não estão evitando as pessoas de irem até as lojas e comprarem o game.
Gostaria de concluir esse texto pedindo para que, antes de você dar opinião sobre qualquer coisa, ou mesmo decidir pela compra, prefira antes testar você mesmo. Caso eu fosse influenciado por tudo que estou lendo sobre Watch Dogs, jamais compraria o título.
E confesso pra vocês, estou me divertindo pra caramba 🙂
Rodrigo Cunha96 Posts
Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.
4 Comentários
Lucas Nunes
9 de junho de 2014 at 15:39Texto muito bem feito em relação a críticas e opiniões, Parabéns!
Rodrigo Cunha
9 de junho de 2014 at 15:46Olá Lucas, tudo bom?
Resolvi não fazer apenas uma análise sobre o game, já que há tantas por aí, mas sim falar um pouco sobre essa atmosfera de paranoia relacionada a aspectos técnicos. Sinto que grande parte da decepção das pessoas com relação ao game, veio por conta dos gráficos e muitos até deixaram de jogar por conta disso, o que é uma pena, já que o game está MUITO, mas MUITO longe de ser “feio”.
Fico feliz que tenha gostado do texto 🙂
Um abraço, Lucas.
Guilherme Cury
9 de junho de 2014 at 16:21E eu que não joguei ainda?! Estou louco para comprar!
Rodrigo Cunha
9 de junho de 2014 at 16:23Recomendo, Cury. É divertido demais sair hackeando as pessoas na rua e conhecer o perfil de cada uma delas. Quando chegam as escolhas morais, fica ainda mais interessante 🙂