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Arcade Fire – Reflektor [ANÁLISE]

Depois do lançamento de Funeral (2004), os canadenses do Arcade Fire começaram a chamar a atenção do mundo inteiro, principalmente depois de terem seu disco de estréia considerado como o melhor álbum do ano por publicações importantes, como a Pitchfork e a NME, que considerou Funeral como o 2º melhor álbum daquele ano.

Na sequência veio Neon Bible (2006), só pra afirmar que a banda não tinha somente um bom disco de estréia mas que tinha substância e inspiração de sobra pra emplacar mais um excelente trabalho. O mesmo aconteceu com o sucessor Suburbs (2010), que só serviu para reafirmar o status da banda e faturar o Grammy de Álbum do Ano.

Capa do álbum Reflektor (2013)

Agora, em 2013, os caras lançaram Reflector. Produzido por James Murphy, ex-líder do finado LCD Soundsystem, o novo álbum dos canadenses soa 60% LCD Soundsystem e 40% Arcade Fire. É possível perceber o talento do produtor em todas as faixas do álbum, especialmente em Reflector, We Exist, Here Comes The Night Time e Afterlife. Vale enfatizar que não é um disco que agradará a todos na primeira audição, principalmente por conta da duração das faixas, que possuem em média, cinco minutos.

Por isso, dê uma chance, escute em casa com calma em um aparelho de som que dê ênfase nos graves. Afinal, temos James Murphy na produção, que realmente tinha toda a razão quando disse “Não estou entusiasmado por ser diferente. Estou apenas entusiasmado por ser um bom disco”. Depois da primeira audição, vá para a segunda e depois para a terceira. Depois venha aqui discutir sobre 🙂

Segue a análise faixa a faixa:

01. REFLEKTOR (7:33)

A faixa de abertura do álbum, extremamente dançante, funciona muito bem como faixa de abertura com seus mais de 7 minutos e começa te conquistando aos poucos. Ao final dela, é bastante provável que você já esteja cantando o refrão alto na rua. Os minutos finais dessa música são incríveis, trazendo uma batida viciante combinada a uma camada de teclados entorpecente. Nessa faixa, Régine Chassagne participa bastante, tornando a música ainda mais agradável. Confere o clipe aí embaixo. Nota 9.5

02. WE EXIST (5:44)

Essa música vai te conquistar no primeiro minuto. É a faixa que possui os melhores graves do disco. A linha de baixo dá vontade de largar tudo e sair pulando. Baixistas do meu Brasil: essa é pra vocês! Essa faixa também tem guitarras com timbres que fazem lembrar um pouco a guitarra tocada por Alex Turner, do Arctic Monkeys. Nota 10.0

03. FLASHBULB EYES (2:42)

Pra quem gosta de Dub, essa faixa é um prato cheio. Apesar de também possuir bons graves, não mantém o ritmo das anteriores. Não é ruim, mas destoa bastante de todo o restante do disco. Nota 7.5

04. HERE COMES THE NIGHT TIME (6:30)

Essa foi a primeira música que eu ouvi do álbum. Também destoa bastante do restante e chega a soar um pouco arrastada. É uma música bastante imprevista em termos de harmonia, principalmente quando falamos da abertura e da mudança que ocorre lá pelo meio. Pode agradar alguns pela melodia e pelo piano bem colocado. Nota 8.0

05. NORMAL PERSON (4:22)

Essa faixa tenta soar ao vivo, com o vocalista agradecendo a presença de todos por terem vindo ao “show”. Talvez seja a faixa mais Arcade Fire de todas. Melodia é a palavra que melhor classifica essa música. A guitarra que entra rasgando no refrão é capaz de fazer até os mais tímidos a se tornarem headbangers. Não se trata de um solo incrível, longe disso. São apenas notas bem colocadas. Aqui, Win Butler canta “Is anything strange as a normal person / Is anyone as cruel as a normal person?”, enfatizando bastante a constante preocupação das pessoas de serem encaradas como pessoas normais ou medíocres. Nota 9.0

06. YOU ALREADY KNOW (3:59)

É a sexta faixa e chega pra “normalizar” um pouco as coisas, com um teor mais pop, lembrando os últimos trabalhos do The Clash, na fase pós London Calling. Aqui o Arcade Fire volta a soar mais dançante e menos tenso. É aquela música que tocaria em qualquer festa. Nota 7.5

07. JOAN OF ARC (5:26)

Algumas passagens dessa música também remetem a The Clash, principalmente a sonoridade invocada no refrão, com várias vozes cantando o título da música. Régine também participa bastante aqui. É mais uma ótima música, que certamente vai te fazer cantar na rua. Eu mesmo já o fiz 🙂 Nota 8.5

08. HERE COMES THE NIGHT TIME II (2:52)

Uma versão bastante reduzida da anterior, sem o mesmo tom festivo, mais dark. É uma faixa breve, que serve apenas de ponte para o próxima música, essa sim incrível. Nota 7.0

09. AWFUL SOUND (OH EURYDICE) (6:13)

É aqui que temos o início do clímax do álbum, em tons épicos, bem ao estilo Arcade Fire. Em tradução direta, o nome dessa faixa seria algo próximo a “Som Terrível”. Até faz sentido, porque a sonoridade é bastante trágica. As camadas de teclados são algo que realmente vão te levar pra outra dimensão. É algo próximo a timbres utilizados pelo compositor grego Vangelis, explorados principalmente no clássico de Ridley Scott, Blade Runner. O refão chega gigantesco, esperançoso, cantado em coro. Bela música. Nota 9.0

10. IT’S NEVER OVER (HEY ORFEUS)(6:42)

Outra faixa incrível e bastante melódica. Com uma batida irresistível acompanhada de uma linda melodia de guitarra em alguns versos, também contando com a presença marcante de Régine, essa faixa mantém o tom épico da anterior. Nota 8.5

11. PORNO (6:02)

Um dos meus momentos prediletos de todo o álbum. Porno é dark, toda composta em cima de um sintetizador que, só pelo timbre, é responsável por construir grande parte do tom dark que a música possui. Essa faixa parece fazer parte de um dos dois primeiros álbuns do Duran Duran, algo próximo a The Chauffeur, composta pelos ingleses em 1982, para o álbum Rio. Mas em Porno, também é possível sentir a mão de James Murphy. Excelente música. Nota 9.5

12. AFTERLIFE (5:52)

E chega a festiva Afterlife. Também uma das faixas que mais gosto no álbum, essa música tem muito da personalidade de Murphy e funcionaria perfeitamente em um álbum do LCD SoundSystem. Começa simples, sem grandes pretensões, até explodir em um belíssimo refrão, que te fará ficar balançando a cabeça ou batendo com os pés no chão onde quer que você esteja, meu caro. Sente o clima do clipe aí embaixo. Nota 9.5

13. SUPERSIMMETRY (11:17)

Essa é a última faixa do disco. Apesar dos 11 minutos de duração, há vocais somente nos dois primeiros minutos, sendo sucedidos por uma longa viagem sonora, que começa interessante e torna-se completamente dispensável, encerrando com alguns ruídos e tons mais psicodélicos. Nota 7.5

E é por tudo isso, que não exito em dar 4 gravatas pra essa pérola. Não fosse alguns pequenos deslizes, teria concedido a honra das 5 gravatas para Reflektor. Mesmo assim, é um álbum pra ouvir sempre. Sem dúvida será lembrado na já ótima discografia do Arcade Fire como mais um ponto alto na carreira dos caras.

Rodrigo Cunha

Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.

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Rodrigo Cunha