True Detective e o novo espetáculo da TV

truedetective

Aguardar o último episódio de True Detective foi uma grande tortura pra mim. Pra quem está começando a desacostumar em assistir a séries tendo que esperar uma semana para poder assistir ao episódio seguinte, é complicado. E a culpa é do Netflix 😀

O fato é que precisei viajar no final de semana passado. Por sorte, conseguir chegar a tempo de estar na frente da TV, ligado na HBO a exatas 00:03h para assistir ao episódio final de uma série que vai deixar grande ensinamentos para as que virão na sequência, assim como fizeram Breaking Bad, Sopranos e tantos outros.

O fato é que as séries estão começando a ser niveladas por cima. Foi descoberto que sim, há audiência qualificada ávida por conteúdo de qualidade na TV. Gente que não tem pressa no desenvolvimento de tramas e prefere assistir a um belo roteiro, composto por personagens complexos e história densa. É mais ou menos o oposto do que vem acontecendo com o cinema, que vem buscando bilheteria a qualquer custo, com uma overdose sequências e filmes-pipoca, como o último 300: A Ascensão do Império.

SÉRIES CADA VEZ MAIS DENSAS

Precisa ser dito que a realização de True Detective só foi possível por conta do atual cenário em ebulição das produções voltadas para a TV, onde atores, produtores e diretores de primeira linha tem apostado cada vez mais no formato e orçamentos cada vez maiores tem sido destinados a esse tipo de produção, o que tem gerado uma briga de foice entre HBO e Netflix, briga que temos gostado de assistir direto do sofá, com pipoca e refrigerante.

True Detective, durante sua curta temporada de apenas oito episódios, conseguiu nos aproximar de um universo delicioso e complexo. A cidade de Louisiana, após ter sido devastada pelo furacão Katrina, concedeu o background necessário para a criação desse universo, deliciosamente agradável de contemplar. Queríamos que aquela relação entre a cidade e os personagens que ali viviam, não chegasse ao fim dessa forma, tão rápida.

TRUE DETECTIVE FOI AINDA MELHOR NO IMAGINÁRIO DAS PESSOAS DO QUE NA PRÓPRIA TELA DA TV. O “FILME DE POSSIBILIDADES” QUE SE PASSOU EM NOSSAS CABEÇAS ENQUANTO ASSISTÍAMOS AOS EPISÓDIOS – E PRINCIPALMENTE APÓS O FINAL DELES -, SEMPRE FOI INCRÍVEL, E NOS FAZIA AGUARDAR ANSIOSAMENTE PELO DESFECHO DA HISTÓRIA.

Em um post feito aqui no TPH, onde descrevi o que sentia sobre a série após ter assistido ao 1º episódio, enfatizei bastante o clima e o desempenho dos atores Matthew McConaughey e Woody Harrelson, que só evoluiu ao longo dos episódios.

Houveram episódios completamente focados nos dois, enfatizando um nível dramático espantoso. Já outros, focavam mais na parte técnica, principalmente os últimos minutos do episódio 4, que usou e abusou de um plano-sequência impressionante, nos pondo a refletir sobre as direções que a série tomaria a partir dali.

Mas, o que o criador e roteirista Nic Pizzolatto e o diretor Cary Fukunaga queriam nos dizer o tempo todo, é que estávamos sim assistindo a algo completamente fora dos moldes tradicionais. O tal episódio 4 não queria enfatizar que a série, a partir dali, teria um foco maior em ação. Dá só uma olhada na cena aí embaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=eVK_scFlCHg

Durante os 8 episódios, também não faltaram referências ao livro “The King in Yellow”, de 1895, do autor Robert W. Chambers, sendo inclusive citados vários trechos dele ao longo dos episódios, principalmente pela possível revelação do tal “Rei de Amarelo” com o livro de Cosmic Horror e o planeta de Carcosa, supostamente amaldiçoado e palco de adoração pelo demônio.

Essas referências puseram a internet em polvorosa. A maioria dos posts sobre a série tornaram-se fóruns de discussão, onde leitores teorizavam e conspiravam sobre o universo da série e o planeta Carcosa, tentando descobrir quem seria o autor do bizarro assassinato de Dora Lange. Havia muita curiosidade, principalmente em relação ao sobrenatural. O site Reddit e a Wired, foram dois dos locais onde mais haviam teorias sendo discutidas.

IMAGINAÇÃO: ESSENCIAL DURANTE TODA A TRAMA

Arrisco até a dizer que True Detective foi ainda melhor no imaginário das pessoas do que na própria tela da TV. O “filme de possibilidades” que se passou em nossas cabeças enquanto assistíamos aos episódios – e principalmente após o final deles -, sempre foi incrível, e nos fazia aguardar ansiosamente pelo desfecho da história.

Foi algo próximo a sensação proporcionada por “Além da Imaginação” e, por “Twin Peaks”, de David Lynch, onde o primeiro inclusive foi citado como fonte de inspiração do roteirista. No entanto, o que Nic Pizzolatto queria nos dizer não tinha relação tão direta com o sobrenatural e nem mesmo com a atenção aos detalhes da investigação para tentar encontrar quem era o assassino.

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Tudo foi colocado lá apenas para provocar a nossa imaginação. Para querermos fazer ligações sobrenaturais e traçar paralelos com outras histórias, outras séries. Creio que David Lynch deve ter se sentido orgulhoso pelas referências, com a ressalva de que True Detective sempre dosou o sobrenatural com muita cautela.

A série da HBO flertou bastante com esses universos, mas a história que realmente estava sendo contada desde o primeiro até o último episódio, era a mais antiga de que se tem notícia: A eterna luta entre o bem e o mal, luz e escuridão, enfatizando muito os momentos em que os dois detetives viviam.

A série sempre foi sobre seus personagens e a capacidade do homem em ser mal, mostrando no último episódio, que o egocentrismo e a arrogância, foram ofuscados por uma experiência única vivida pelo personagem de McConaughey, que durante toda a série nos mostrava uma visão bastante pessimista – ou realista, na visão dele – em relação a vida.

O final é realmente difícil de descrever, dependendo do conjunto de valores e crenças que cada um possui, além das expectativas mantidas durante os oito episódios. Se vocÊ ainda não assistiu ao final ou a qualquer um dos oito episódios, vou mencionar novamente o título do artigo que postei aqui no TPH, há três semanas atrás: “Por favor, pare tudo e vá assistir a TRUE DETECTIVE”.

Rodrigo Cunha96 Posts

Publicitário, geek, louco por cinema, música, games, livros e boas idéias nas horas vagas e não vagas. Tem medo de fazer compras em NY e beber num PUB de Londres e nunca mais voltar.

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